terça-feira, 30 de julho de 2013

Amor em 2025 inclui banco de dados do par

Relações amorosas passarão por grandes mudanças no futuro, diz psicanalista

Capa de domingo (05/01/14) de OT. 

PUBLICADO EM 05/01/14 / ANDERSON ROCHA


Não tinha como o solitário escritor Theodore não se apaixonar por Samantha: ela era companheira, sexy e engraçada. A história, até então banal, ganha outro sentido após um novo dado: “ela” não era uma mulher, de corpo e alma, mas uma voz feminina, produzida e controlada por inteligência artificial, e disponível no sistema operacional do novo celular do homem – algo como uma experiência de aprimoramento da atual Siri, da Apple.

O enredo do lançamento hollywoodiano “Her”, de Spike Jonze, é ficcional, mas pode virar realidade. Pelo menos essa é a aposta de um estudo divulgado em dezembro passado pela revista de negócios “Fast Company”, de Nova York, sobre como podem ser as relações de amor e sexo em 2025.

De acordo com a pesquisa feita pela consultoria norte-americana Sparks and Honey, daqui a 11 anos, os relacionamentos serão balizados por tendências que, de alguma forma, já podem ser identificadas na vida cotidiana atual. Todos eles serão resultado, basicamente, de três realidades: o crescimento incessante na velocidade de comunicação, a próspera aceitação de namoros modernos e a difusão do pornô (ou erótico), que perde características de tabu e ganha ares de mainstream.

A psicanalista e escritora Regina Navarro Lins, autora de sucessos como “A Cama na Varanda” e “O Livro do Amor”, não tem dúvidas de que as relações amorosas passarão por grandes mudanças no futuro. Segundo ela, até pouco tempo a sociedade se restringia a aceitar somente aqueles que se enquadrassem em modelos de relacionamento. Isso, além de nocivo, é ultrapassado.

“Daqui a algum tempo, menos pessoas estarão dispostas a se fechar em uma relação a dois e se tornará comum ter relações estáveis com vários parceiros ao mesmo tempo, escolhendo-as pelas afinidades”, acredita.

Segundo Regina, “tudo bem” se alguém quiser ficar 40 anos com uma única pessoa, fazendo sexo só com ela. Porém, o fato de se desejar vários parceiros também será visto como natural. “A ideia de que um parceiro único deva satisfazer todos os aspectos da vida pode se tornar coisa do passado”, pontua. Nesse processo, ela explica, a tecnologia e a internet terão um papel fundamental, já que favorecerão – como já o fazem – o relacionamento com várias pessoas ao mesmo tempo.

Contato Além do envolvimento entre humanos e softwares, como em “Her”, o artigo aponta outros tipos de contato íntimo que podem surgir. Porém, muitos deles já existem por aí. O primeiro desses itens é a quantificação das relações, que nada mais é que o constante monitoramento da vida sentimental. Um exemplo recente é o polêmico aplicativo Lulu, em que mulheres dão notas e fazem breves descrições sobre a performance dos homens na cama e nos relacionamentos em geral.

De fato, segundo a publicação, o Lulu pode ser só o início, já que a sociedade está cada vez mais preocupada em quantificar tudo: quantos copos de água bebeu, quantos quilômetros correu etc. Passar a quantificar as relações será um passo natural. Assim, no futuro, é possível que exista um verdadeiro banco de dados com informações colaborativas, que poderão ser utilizados na hora de escolher um parceiro.

Geolocalização Outra “previsão” é que as relações sejam ainda mais instantâneas e geolocalizadas. Assim como já acontece com apps como Tinder, ligado ao Facebook, Grindr (exclusivo para o público gay) e Snapchat (de troca de fotos sem a possibilidade de que sejam salvas no celular do destinatário), a ideia é que seja mais fácil ainda contatar pessoas para interações rápidas, aleatórias e baseadas no local onde o outro está.

Hollywood ‘Her’. O novo trabalho de Spike Jonze ainda não tem data de estreia no Brasil. O trailer do filme com atuações de Joaquin Phoenix e Scarlett Johansson pode ser visto no YouTube.

Sexo à distância diferenciado Um dos itens propostos pela pesquisa da Sparks and Honey é o sexo à distância, mas diferente do que, de alguma forma, é praticado atualmente por algumas pessoas. 

Em vez de somente ver ou ouvir a voz do parceiro ou parceira, a pessoa poderá tocá-la, através de comandos.

Mais do que isso, novas experiências, mais reais, podem acontecer e, nelas, uma pessoa pode encontrar outra, virtualmente, e ter um momento de intimidade.


RETRANCA: REVENGE PORN

Vingança na rede representa  o ‘lado mau’ da tecnologia

Com a popularização das impressoras 3D no futuro, partes dos corpos do parceiro poderão ser digitalizadas e transformadas em verdadeiros objetos sexuais customizados.

Por outro lado, se um órgão sexual impresso em 3D ou a facilidade para identificar um potencial parceiro via celular são possibilidades que podem ser vistas como vantajosas, o uso de imagens íntimas de terceiros, sem autorização e motivadas por ódio, definitivamente não são lados bons da sexualidade do futuro.

“A vingança amorosa é um fenômeno antigo. O que move a vingança é o ódio, fruto da rejeição. Com a tecnologia, a vingança vai se transformando e é muito mais abrangente”, afirma a psicanalista Regina Navarro.

E mais perigosa. Em novembro, duas adolescentes praticaram suicídio após terem vídeos em que faziam sexo publicados, indevidamente, por terceiros na internet. O primeiro caso aconteceu no Piauí: de acordo com a polícia local, a menina, de 14 anos, foi encontrada morta, em casa, após aparecer em vídeo íntimo.

Em outro caso, uma adolescente dois anos mais velha também se matou, no interior do Rio Grande do Sul, supostamente por ter descoberto que o ex-namorado havia divulgado imagens íntimas dos dois na internet.